quinta-feira, 23 de junho de 2011

"A Virtude e o Vício"

    




       Anda para aí uma praga de gente boa que incomoda os outrso, como eu. São contra os vícios, contra os pecados, contra o excesso de sentimentos. Não se enervam, não levantam a voz, não discutem. (...)
     Acreditam em qualquer coisa vagamente mística e nas virtudes budistas da temperança. Ambas as fés lhes servem a funda convicção de que o mundo é demasiado humano para o seu gosto. Gostam de conversas calmas, de sentimentos controlados, de comida sem cheiro, de móveis de design, de linhas depuradas e rectas, como o próprio corpo que cultivam. Enfim, acreditam nessa verdade, mais perigosa do que todas as outras, que é a possibilidade de um mundo perfeito. (...)
     Se são homens, não têm filhos porque lhes estragam a carreira e tiram a «liberdade»; se são mulheres, estragam-lhes a figura e a «liberdade». Sim, porque eles livres: não prestam tributo ao vício e só respondem por si próprios. A «liberdade» ensinou-os a planear, a prever, fogem do acaso e das circunstancias como se foge de um intruso nocturno. (...)
     Somos um monte de pecados e vícios que bate à porta da virtude. E é desesperadamente verdade que eles estão certos; é certo que viverão muito mais do que nós; é certo que eles estão livres de colesterol, de cirroses e de enfisemas pulmonares; é certo que não morrerão de stress, nem de desgostos de amor, nem de aflições paternais; é porvável que nem sequer morram - de coisa alguma.
      Quem sabe, talvez este seja o caminho da imortalidade? Livrai-nos, Senhor; dos males do mundo, da condição de homens, dos caracóis com óregãos e do cheiro das sardinhas assadas.
       Sim, dai-lhes Senhor o eterno descanso.
(texto com supressões)

Miguel sousa Tavares, in Não de Deixarei Morrer, David Crockett
      
    

sexta-feira, 17 de junho de 2011

“Nada é mais perigoso do que o silêncio”




“Nada é mais perigoso do que o silêncio”



       "Deve ser horrível ser-se deixada por ti!" Albert nunca mais esqueceu quando é que Marta tinha dito esta frase. Estavam deitados na cama nus, era fim de tarde e tinham acabado de fazer amor. Um silêncio instalara-se entre eles e velava sobre os seus corpos transpirados, mas era tudo menos um silêncio de estranhos. Pelo contrário: era tão familiar, tão íntimo, tão intenso, que chegava a doer de puro prazer. Era mais íntimo do que a própria nudez, mais devassante do que tudo o resto que faziam na cama.
       E, então, Marta dissera aquela frase, sem mais nem menos, assim de repente. Ele ficou calado, ela voltou a calar-se, nada mais disse e ficou calado, ela voltou a calar-se, nada mais disse e ficou outra vez em silêncio. Ele lembrava-se de ter chegado a pensar "posso dizer o mesmo", mas nada disse. Para quê? Sabia que Marta tinha razão, sabia que era por causa do que aquela frase encerrava que um dia Marta o deixaria – ela, antes dele.
       Essa frase, essa terrível defesa, ele passeara-a depois, ao longo dos anos, ao longo das dezenas de outros corpos ou animais, ou o que se deva chamar a essa confusa fusão de um corpo, que não obedece à cabeça, de sentimentos que afinal não passam de sensações e onde tudo é desesperadamente contraditório: porque não te amo, tenho este corpo para te oferecer; porque te amo fujo e desapareço. E, porque desapareço, não te esqueço, porque essa é a minha forma de te amar - tudo o resto é ainda mais e mais sofrimento.
       Com os anos «eventually», como dizem os ingleses, Albert tornou-se um brilhante cirurgião nos hospitais. Ele, que verdadeiramente fora avesso à intimidade de qualquer outro corpo que não o da Marta, ocupava-se agora em dar vida a corpo silenciosos e inertes, de que não conhecia os pensamentos nem os segredos.     
      (…) Albert nunca recuperou da ausência física de Marta. Mas guardou os silêncios e reconstruiu-os.(…) Porque nada é mais íntimo e mais indestrutível do que o silêncio partilhado. Tudo o resto são apenas palavras, sons, frases, coisas que qualquer um pode dizer. Podemos desdizer hoje o que dissemos ontem, podemos gritar hoje, por ódio, o que ontem segredávamos por amor. Mas o silêncio fica, porque nunca mente, porque é tão íntimo que não pode ser representado, é tão envolvente que não pode ser rasgado.
      (...) Sei quanto se amam no silêncio e à distância e não sei dizer como acabará a sua história. Ele destrói-se, ela defende-se. Cada um deles faz por desejar ou fingir desejar a salvação própria, mas, acima de tudo, teme a salvação do outro. O silêncio é o que lhes resta, o que os une, uma finíssima película de tempo suspenso, para além da qual não há nada mais do que a escuridão dos abismos. E, por isso, nenhum deles ousa qualquer palavra, qualquer gesto, qualquer coisa que possa romper esse ténue fio que os prende à eternidade. É uma história triste e sem fim feliz à vista. Conto-a, porque me parece que ela encerra uma lição útil: nunca devemos amar em silêncio, nada é mais perigoso do que dividir com outrem os pensamentos vividos em silêncio. Um amor feliz precisa do turbilhão das palavras, das frases aparentemente inúteis e sem sentido, precisa de adjectivos, de elogios, do ruído das banalidades. Não há felicidade que não seja tantas vezes fútil, tantas vezes inútil.
                                        (Miguel Sousa Tavares, in Não te Deixarei Morrer, David Crockett)
                                        (Texto com supressões)
          No dia que adquiri esta obra, abri o livro ao calhas neste conto. Arrepiou-me!
          Não acredito que haja alguém que não se reveja nele.





quinta-feira, 16 de junho de 2011

Natasha Beningfield "I Bruise Easily"

Diz muito sobre mim.
Aqui fica uma possível tradução:

Magoo-me Facilmente


Minha pele é como um mapa
De onde meu coração tem estado
E eu não posso esconder as marcas
Mas isso não é mau
Então eu baixo a guarda
Diminuo minhas defesas com minhas roupas
Estou aprendendo a cair
Sem nenhuma segurança para amortecer a queda

Magoo-me facilmente
Por isso seja meigo quando estiver comigo
Há uma marca que você deixou
Como um coração esculpido em uma árvore
Magoo-me facilmente
Não consigo lutar com o exterior
Sem me comover facilmente
Magoo-me facilmente
Magoo-me facilmente

Eu encontrei uma impressão digital
Numa taça de vinho
Sabia que você as deixou
Por todo meu coração também?
Mas se eu nunca der esse pulo de esperança
Eu nunca vou saber
Por isso estou aprendendo a cair
Sem nenhuma segurança para amortecer a queda

[Refrão]

Qualquer um que te tocar
Pode magoar-te ou  curar-te
Qualquer um que chegar a ti
Pode amar-te ou abandonar-te

Sem me comover facilmente

[Refrão]

Magoo-me facilmente
 Magoo-me facilmente



quarta-feira, 15 de junho de 2011

Delicioso...

        Sigo atentamente o blog em que a minha amiga Ilídia (aquela que amo profundamente e que tenho na minha lista de amigas admiráveis e extraordinárias.) publica posts. Ainda em 2010 (acho eu), li um texto publicado por ela que me deixou a pensar. Falava nos filhos e no imenso amor que lhes temos, quando referiu algo que nunca me tinha ocorrido, relativamente aos casais que têm mais do que um filho: "O amor não se divide, multiplica-se.". Como mãe, acho a ideia extraordinária e profundamente deliciosa. Considero mais aceitável a ideia de multiplar o amor consoante o número de filhos, do que os manter em "guerra" constante pelo amor existente.
      Resta-me saber se algum dia encontrarei um homem que me ame e que me faça querer repetir a experiência de ser mãe. Quem sabe? Talvez um dia.
      Sei que alguém (se é que alguém me lê) está a pensar: "Esta já integrou no seu vocabulário o verbo amar?". A minha resposta a essa pergunta é SIM!
      Deixo-vos uma foto tirada a 21 de Julho de 2006 (isto já parece um programa do José Armando Saraiva lol),ano (lectivo) em que tive a distinta honra de conhecer melhor, na Graciosa, aquela a que chamo carinhosamente "a minha Ilí".

        À nossa! :D

sexta-feira, 10 de junho de 2011

"Closer" ou na versão portuguesa: "Perto Demais"

         Após um longo período sem ver este filme, descobri-o a dar no Hollywood. Há coisas que não se percebem mesmo....
        Aqui fica uma música da sua banda sonora.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Feliz dia da criança!

No mundo imperfeito em que vivemos, em que nem todas as crianças são felizes, fecho os olhos e finjo-me ignorante, porque a minha linda não tem culpa disso.
Feliz dia da criança!