Anda para aí uma praga de gente boa que incomoda os outrso, como eu. São contra os vícios, contra os pecados, contra o excesso de sentimentos. Não se enervam, não levantam a voz, não discutem. (...)
Acreditam em qualquer coisa vagamente mística e nas virtudes budistas da temperança. Ambas as fés lhes servem a funda convicção de que o mundo é demasiado humano para o seu gosto. Gostam de conversas calmas, de sentimentos controlados, de comida sem cheiro, de móveis de design, de linhas depuradas e rectas, como o próprio corpo que cultivam. Enfim, acreditam nessa verdade, mais perigosa do que todas as outras, que é a possibilidade de um mundo perfeito. (...)
Se são homens, não têm filhos porque lhes estragam a carreira e tiram a «liberdade»; se são mulheres, estragam-lhes a figura e a «liberdade». Sim, porque eles livres: não prestam tributo ao vício e só respondem por si próprios. A «liberdade» ensinou-os a planear, a prever, fogem do acaso e das circunstancias como se foge de um intruso nocturno. (...)
Somos um monte de pecados e vícios que bate à porta da virtude. E é desesperadamente verdade que eles estão certos; é certo que viverão muito mais do que nós; é certo que eles estão livres de colesterol, de cirroses e de enfisemas pulmonares; é certo que não morrerão de stress, nem de desgostos de amor, nem de aflições paternais; é porvável que nem sequer morram - de coisa alguma.
Quem sabe, talvez este seja o caminho da imortalidade? Livrai-nos, Senhor; dos males do mundo, da condição de homens, dos caracóis com óregãos e do cheiro das sardinhas assadas.
Sim, dai-lhes Senhor o eterno descanso.
(texto com supressões)
Miguel sousa Tavares, in Não de Deixarei Morrer, David Crockett
Sempre que passo pelo teu “espaço”, aprendo algo de novo e por vezes identifico-me em certos pormenores da tua escrita, tendo de algum modo aprender e corrigir alguns dos meus erros da vida… Chamo a isso aprendizagem!
ResponderEliminarMuitas vezes só pensamos nos outros nós e esquecemo-nos de nós. As suas necessidades, as suas carências, os seus anseios!
E não me refiro às coisas físicas e básicas, que esta conturbada vida nos exige todos os dias e cada vez mais, para mal dos nossos pecados.
Não, refiro-me às coisas do espírito, aos aspectos do bem-estar a nível psicológico, do estar "vivo" a nível do intelecto, que como é óbvio também faz parte da nossa postura e da nossa "passagem" por este mundo.
Quero com isto dizer o seguinte: Às vezes não estamos predispostos para tais "viagens e deambulações" por esse tal mundo, mas temos que fazer um esforço e mostrar disponibilidade, solidariedade, empenhamento e comunhão de esforços para que o outro/outra, companheiro(a), amigo(a) se sinta confortado, compreendido, e porque não, amado(a)?
Às vezes, para não dizer sempre, resulta e reforça a relação, seja ela qual for, entre dois caminhantes/companheiros desta difícil e intrincada vida actual.
«««« Sou como um " pássaro" com as "asas" partidas... Mas o meu pensamento é livre como o vento.»»»»